Os desafios do Mercado de Retalho Alimentar face a uma nova ordem mundial

por Carlota Gouveia 

carlota.gouveia@inodev.pt


O mercado retalhista português está em constante mutação. Há 15 anos, o segmento alimentar representava 42% do mercado retalhista português, e os cinco principais grupos de distribuição alimentar detinham uma quota conjunta de 64% – Grupo SONAE (21%), Grupo Jerónimo Martins (16%), Intermarché (11%), Auchan (9%) e Lidl (8%). Hoje, o mercado é maioritariamente dominado pelos hipermercados Continente (Grupo SONAE) e Pingo Doce (Grupo Jerónimo Martins), que juntos detêm cerca de 50% da quota de mercado. No restante top 5, composto ainda pelo Intermarché, Auchan e Lidl, verificou-se uma flutuação do seu peso no mercado, tendo havido uma diminuição nas quotas do Intermarché e do Auchan em 2,2% e 3,4%, respetivamente. Em contrapartida, o Lidl aumentou o seu domínio no mercado em 3,3%, comparativamente ao ano de 2007.

É inquestionável que Portugal apresentava-se como um dos mercados de retalho alimentar com maior potencial na europa. No período pré-Covid-19 assistimos a uma larga expansão das maiores cadeias de distribuição com a abertura de 300 novas lojas. Mesmo com o aparecimento da pandemia, entre 2019 e 2022, a previsão apontava para uma taxa de crescimento acumulado de 2,2%.

O desenvolvimento do retalho a nível nacional tem tido uma avaliação positiva para os consumidores portugueses. A expansão das redes de discount e a chegada de hipermercados a cidades mais pequenas levaram a um aumento da variedade de modelos de loja e de produtos, beneficiando os consumidores com melhores preços de mercado, maior conveniência e mais escolha. Ainda assim, a maior disrupção do mercado passou pela introdução do e-commerce alimentar, que registou um crescimento exponencial em 2020 devido à Covid-19. Na realidade, no ano de 2020, um em cada três lares portugueses comprou produtos alimentares online dos quais 45% repetiram este canal de compras pelo menos uma vez.

Contudo, em consequência do decréscimo das vendas após o recuo dos efeitos da pandemia e a pressão nos preços e na concorrência, o retalho alimentar experiencia agora um deterioramento das condições de mercado. A inflação estava já a ser encarada como uma dificuldade pelos retalhistas europeus, mas com a aparentemente infindável guerra na Ucrânia, são agora os consumidores os principais prejudicados com o aumento dos preços nos alimentos. Entre 2019 e 2022 os portugueses aumentaram em 77€ o valor que despendiam em alimentação e 50% desse aumento aconteceu apenas no último ano. Curiosamente, o único setor que contraria esta tendência é o da higiene e beleza, onde o preço médio dos produtos diminuiu 7,2% em relação a 2019. 

Segundo o relatório State of Grocery Europe 2022: Navigating the market headwind” divulgado pela McKinsey & Company, podemos então considerar aqui algumas tendências que irão moldar o mercado de retalho alimentar nos próximos tempos. A primeira é, sem dúvida, a forte pressão sobre as margens, já que a inflação está a aumentar. A segunda tendência é a procura polarizada de produtos, ou seja, com o aumento da sensibilidade aos preços, os consumidores com menor poder de compra irão privilegiar ainda mais as promoções, e as famílias com maior poder de compra irão procurar produtos que se adequem ao seu estilo de vida como, por exemplo, produtos mais saudáveis, sustentáveis e premium. Outra tendência prende-se com o abrandamento do crescimento do online e no aumento de ofertas de e-commerce mais diferenciadas, tornando este mercado mais fragmentado. A última tendência deste mercado é a procura, por parte dos retalhistas, por novas fontes de lucro. Com o aumento da pressão no mercado, a criação de novas formas de obter receita torna-se essencial, seja através da sua atividade principal, da introdução de inteligência artificial, ou até através da análise avançada de dados para permitir decisões comerciais mais informadas e oferecer opções mais personalizadas aos consumidores.

Uma coisa é certa: um mercado que foi outrora considerado estagnado, consolidado e arcaico, está agora em completa metamorfose, com muito potencial ainda por ser explorado, sendo que a tecnologia, unida com práticas inovadoras, serão os maiores aliados neste percurso.

Para mais informações sobre este tema, contacte-nos.

geral@inodev.pt

Fontes:

https://grandeconsumo.com/os-retalhistas-preferidos-dos portugueses/#.YmlmR3rMI2w, consultado a 31/07/2022

http://aped.pt/wp-content/uploads/2019/10/e_05_184_1_G.pdf, consultado a 1/08/2022

http://aped.pt/wp-content/uploads/2022/01/APED-Flash-Report-Retail-junho-2021.pdf, consultado a 1/08/2022

https://www.mckinsey.com/industries/retail/our-insights/state-of-grocery-europe-2022-navigating-the-market-headwinds, consultado a 1/08/2022

Lares portugueses gastam mais 12% enquanto líderes do retalho perdem quota (distribuicaohoje.com), consultado a 1/08/2022

https://grandeconsumo.com/62-dos-portugueses-considera-dificil-fazer-face-as-despesas-com-alimentacao-e-bens-essenciais/#.YueqUnbMI2w, consultado a 1/08/2022

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