por Micael Alves
A canábis é uma das plantas medicinais mais antigas do mundo. À medida que se foi consolidando o conhecimento das propriedades da canábis para o uso medicinal e a remoção da planta da lista da ONU das substâncias mais perigosas, proporcionou aos países começarem a legalizar o consumo de canábis.
A Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde de Portugal (INFARMED) já estava bastante avançada neste processo, e o uso terapêutico foi legalizado em 2018 e está regulamentado desde fevereiro de 2019.
A canábis em Portugal é descriminalizada, mas não é legal se não for receitada por um médico e dispensada por uma farmácia.
Esta só pode ser receitada se os tratamentos convencionais não estiverem a produzir o efeito desejado para as seguintes condições (aprovadas pela INFARMED):
Esclerose Múltipla: A esclerose múltipla não tem cura e afeta o sistema nervoso central. Nesta patologia, a mielina é destruída, impedindo a comunicação adequada entre o cérebro e o corpo. Por outro lado, o processo inflamatório que ocorre nessa doença danifica as próprias células nervosas, causando perda permanente de várias funções, dependendo das áreas afetadas.
A espasticidade é um distúrbio do controlo sensório-motor caracterizado pela ativação muscular involuntária. Está presente em diversas doenças neurológicas, como: paralisia cerebral, doenças neurodegenerativas, acidentes vasculares cerebrais, esclerose múltipla e lesões na medula espinhal.
Em adultos, a espasticidade tem sido abordada com Canabinoides sintéticos, por via oral ou por spray oral, THC oral e inalado, com evidências favoráveis, principalmente entre pacientes com esclerose múltipla e paraplegia.
Cancro: Um quarto da população portuguesa está em risco de desenvolver cancro aos 75 anos e 10% corre o risco de morrer de cancro, segundo a Agência Internacional para a Investigação do Cancro. Náuseas e vómitos induzidos por quimioterapia (NVIQ) são efeitos adversos do tratamento de pacientes com quimioterapia citotóxica, sendo descritos pelos pacientes como um dos seus maiores medos antes de iniciar esses tratamentos. Cerca de 70 a 80% dos pacientes que recebem quimioterapia estão em risco de NVIQ.
Hepatite C: O fígado desempenha várias funções no corpo, como as relacionadas à digestão, armazenamento de energia ou remoção de toxinas. A hepatite é uma inflamação deste órgão que pode ter diversas causas, sendo as mais comuns as viroses. Quando os sintomas ocorrem, os mais comuns são fadiga, perda de apetite, náuseas, vómitos e diarreia.
HIV e SIDA: A SIDA é uma condição clínica resultante da infeção pelo HIV. É uma doença que se transmite pelo sangue e pelo contato sexual – portanto, qualquer pessoa pode ser infetada – em que o HIV invade as células sanguíneas responsáveis pela defesa do organismo contra outras infeções e alguns tumores, comprometendo-o. Náuseas e vómitos são alguns dos principais sintomas.
Como a Canábis atua nos indivíduos com Cancro, Hepatite C, HIV e Sida: Como os Canabinoides interagem com os sistemas de neuro-transmissão clássicos para produzir as ações farmacológicas da Cannabis Sativa e Náuseas e Vómitos, podem ser reações “agudas”, “retardadas” ou “antecipatórias”, foram realizados testes para o uso de cannabis no tratamento dessas doenças.
Há perda de apetite em pacientes com cancro e pacientes com SIDA, como tal, a cannabis pode ser usada devido ao aumento do apetite.
Existe ainda a noção de benefício do uso da cannabis medicinal em outros sintomas, nomeadamente a dor. Como tal, pode ser usado para o tratamento da dor causada por doenças cancerígenas.
Nevralgia do Trigémeo: A nevralgia do trigémeo (NT) é um distúrbio doloroso unilateral caracterizado por dor breve semelhante a choque elétrico, com início e término abruptos e limitada à distribuição de uma ou mais divisões do nervo trigémeo.
Atualmente existem poucos tratamentos para o tratamento da NT, e quase metade dos pacientes torna-se refratária a esses medicamentos com recomendações limitadas e muitas vezes invasivas para o controlo dos sintomas. Uma quantidade crescente de evidências sugere que a cannabis medicinal (MC) pode ser eficaz no alívio da dor neuropática, tornando a MC uma opção de tratamento potencialmente valiosa para a NT.
Herpes Zoster: Doença transmissível e viral causada pelo mesmo vírus da varicela. Causa principalmente alterações localizadas na pele. É causada pelo vírus varicela zoster, do grupo Herpes vírus. Os sintomas começam com dor intensa e alguns dias depois aparecem manchas vermelhas, que evoluem para vesículas e posteriormente crostas.
As Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina encontraram evidências substanciais de que a cannabis é eficaz no tratamento da dor crónica. A cannabis projetada para uso recreativo (contendo altos níveis de ingredientes ativos) está cada vez mais disponível para pacientes com dor crónica que não conseguem encontrar alívio com as entidades farmacológicas atuais, o que expõe os pacientes a danos potenciais.
Síndrome de Tourette: A síndrome de Tourette (ST) é uma doença neuropsiquiátrica que se caracteriza pela manifestação de tiques motores e fónicos. A ST afeta principalmente crianças e adolescentes, mas também tem uma prevalência notável na idade adulta.
O benefício do uso da Cannabis Medicinal na síndrome de Gilles de la Tourette (ST) pode ser devido tanto à redução da ansiedade associada quanto à modulação dos recetores CB1, com efeito direto na redução do número de tiques.
Epilepsia: A epilepsia é uma doença com origem no cérebro e caracterizada pela ocorrência de crises epiléticas recorrentes. As convulsões são devidas a um disparo anormal de neurónios (células cerebrais) e ocorrem repentina e imprevisivelmente. As convulsões geralmente são de curta duração (segundos a alguns minutos) e a sua frequência varia de pessoa para pessoa.
A síndrome de Dravet (SD) e a síndrome de Lennox-Gastaut (SLG) reúnem a maior parte da evidência atual e são as duas indicações regulamentares para o uso de Cannabis Medicinal na epilepsia em Portugal.
Doses variáveis de CBD foram utilizadas em associação com os antiepiléticos usuais dos pacientes, iniciando com 2-10 mg/kg/dia, com potencial de aumentar até 50 g/kg/dia, dependendo dos centros (dose média de 25 mg/kg/dia).
Glaucoma: Dependendo dos tipos, os mecanismos são diferentes. Em geral, o que ocorre no glaucoma é um distúrbio na dinâmica dos fluidos intraoculares que determina o seu acúmulo, com consequente aumento da pressão sobre as delicadas células nervosas que são a base da visão, determinando a sua morte e eventual cegueira.
O objetivo da terapia do glaucoma é diminuir a pressão intraocular (PIO). Estudos indicaram que a cannabis pode ter o potencial de diminuir a pressão intraocular.
Para mais informações sobre este tema, contacte-nos.
geral@inodev.pt
Fontes:
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