Maria Inês: O que é o WTC?
Luciano Menezes: O World Trade Center é uma marca mundial, somos 320 world trade centres em 93 países. A marca imobiliária foi fundada pela família Rockfeller há mais de 50 anos e só tem crescido. Tratam-se de complexos imobiliários que podem te ruma parte corporativa, uma parte comercial, um hotel ou até mesmo um centro de convenções. Cada WTC no mundo tem a sua própria particularidade dependendo da cidade em que está inserido e só pode haver um World Trade Centre por cidade, por exemplo, em Lisboa só há um e não pode haver mais nenhum na região.
Maria Inês: Nesse caso pode abrir outro WTC em Portugal?
Luciano Menezes: Sim, qualquer cidade de Portugal pode ter um WTC. Pode, por exemplo, ser no Porto, em Faro ou noutras cidades que possam comportar o espaço de ter um WTC.
Maria Inês: Como referiu anteriormente, um dos objetivos do WTC é o setor imobiliário?
Luciano Menezes: O WTC tem três pilares. O primeiro é o pilar imobiliário, no caso de Lisboa são setenta mil metros quadrados de concessão. O segundo é o pilar das missões comerciais, a rede do WTC conta com cerca de setecentas mil empresas, nos 320 lugares em que estamos inseridos e temos um network muito importante. As missões fazem com que haja uma conexão entre as cidades, os WTCs e os países. Por fim, o terceiro e último pilar é o clube de negócios (ou businesses clubs) que é uma forma de localmente as empresas não só as que estão instaladas no WTC, mas também outras empresas externas puderem participar nos negócios que são gerados pelo próprio WTC.
Maria Inês: Tenho essa questão, como é que funcionam os businesses clubs?
Luciano Menezes: Em Portugal existem cinco comités que são cinco reuniões que acontecem mensalmente. Estas cinco reuniões têm temas diferentes e os mesmos são: smart cities, real state, comércio internacional, innovation start-ups e turismo e entretenimento.
Maria Inês: Então os businesses clubs servem para realizar essas reuniões?
Luciano Menezes: Sim, os businesses clubs servem para estas reuniões especificamente em Lisboa. Os temas diferem de país para país. Por exemplo, em Istambul podem existir outros temas, em Guadalajara outros, no México outros e em São Paulo outros. Cada WTC tem o seu tamanho do real state e tem os seus próprios temas dos businesses clubs, mas todos eles têm uma área de comércio internacional para que todos promovam melhor o comércio internacional.
Maria Inês: É muito interessante porque quem está de fora e para quem não conhece, acaba por perceber o quão interessantes são os businesses clubs porque é visto como uma oportunidade pelas empresas. Outra questão: Como é que é trabalhar na WTC? Qual é o papel que desempenha no WTC?
Luciano Menezes: Eu fui presidente do WTC de São Paulo e neste momento sou vice-presidente do WTC mundial. Então para mim é uma marca importante, é um network importante no mundo inteiro. Recentemente para a uma reunião no WTC de Pequim na República Popular da China em nome do WTC mundial e há quatro meses também fui em Acra no Gana encontrar todos os WTCs do mundo. Para mim ter a possibilidade de me conectar com empresários e negócios do mundo inteiro de A a Z desde São Paulo, Cidade do México, Panamá, Lisboa, Gana, Argélia, China, Singapura, significa muito porque lidamos todos como se fossemos da mesma família e isso é muito interessante. Então para mim, não é um trabalho penoso. É muito divertido e gratificante puder fazer parte não só do WTC Lisboa, mas também do WTC do mundo inteiro.
Maria Inês: É uma experiência enriquecedora.
Luciano Menezes: Muito, muito.
Maria Inês: Isso é muito bom. Relativamente ao WTC Lisboa, eu gostava de saber qual é o papel do mesmo para a captação para empresas para Portugal, ou seja, se eu fosse uma empresa externa como é que o WTC me conseguiria ajudar se eu quisesse entrar para Portugal. Como é feita esta captação?
Luciano Menezes: Como disse anteriormente, fazem parte do WTC cerca de setecentas mil empresas e quem faz parte do WTC está sempre à procura de uma oportunidade para internacionalizar os seus negócios. O exemplo disso é que este semestre recebi várias missões comerciais e na segunda semana de setembro recebemos uma missão de mulheres empreendedoras do WTC da Holanda. Esta missão tratava-se de oito mulheres empreendedores que vieram fazer negócio e o WTC é isto. Os próprios WTCs geram negócios e estes negócios são contínuos porque há sempre muitas atividades a acontecer.
Maria Inês: Então o WTC acaba por trazer as pessoas sem ter de as procurar, é o WTC que chama as empresas.
Luciano Menezes: O WTC é um catalisador de negócios e consegue estabelecer uma rede interessante. Por exemplo, em agosto houve uma reunião em que estiveram todos os WTCs da América Latina em Cartagena das Índias na Colômbia para procurar quais eram os maiores e melhores negócios que se podiam fazer.
Maria Inês: Isso é muito interessante. Gostava então que me falasse da parceria da WTC com a Inodev.
Luciano Menezes: A Inodev e os sócios da Inodev, o Antônio e o João fazem parte dos comités e participam em todas as reuniões e eventos que acontecem e acabaram por ingressar no business club e já receberam diversas indicações do WTC de empresas que se querem internacionalizar para Portugal. Nós não fazemos o mesmo trabalho que a Inodev e por isso é muito bom que o WTC possa recomendar a Inodev para fazer esse trabalho.
Maria Inês: É curioso perceber como estas parcerias ajudam a que não seja preciso ter o conhecimento dentro da empresa, ou seja, o WTC realiza os eventos e as empresas que fazem parte do mesmo podem ajudar oferecendo produtos ou serviços que o mesmo não disponibiliza.
Luciano Menezes: Exato, o nosso negócio é imobiliário e ajudamos a abrir portas ao conectar pessoas. O resto nós não fazemos. Nós não somos advogados, não somos contabilistas, não temos serviços de consultoria, não fazemos pesquisas de mercado, nós não desempenhamos estas funções. Então o WTC recomenda as empresas externas que fazem parte do nosso network.
Maria Inês: Obrigada pela resposta. Como é que o WTC consegue agregar valor ao cliente?
Luciano Menezes: Eu estou nas pontas, ou seja, se eu tenho um cliente numa ponta e consigo abrir uma porta para a outra ponta, eu vou fazê-lo e conto com a Inodev para fazer essa ponte de conteúdos de que falei. A Inodev pode contribuir com os seus serviços de consultoria, por exemplo, com uma pesquisa de mercado ou um business plan. Então, o papel da Inodev é esse e espero que nos possa ajudar ainda mais.
Maria Inês: Qual é a tarefa que gosta mais de desenvolver? Já disse que gosta muito de viajar e de conhecer outras pessoas e que acaba por ser enriquecedor, mas qual é a tarefa que gosta mais de desempenhar no seu dia a dia?

Luciano Menezes: Eu tenho uma característica que me define muito. Eu gosto de fazer reuniões externas, gosto de estar presente em eventos, de promover o evento, eu gosto de conectar as pessoas. Se me colocarem em frente a um computador durante 4 horas eu vou ficar completamente exausto. Não é o meu ADN. Então, o que eu gosto de fazer é isso, é conhecer pessoas, conhecer novos negócios e conectar os negócios no mundo inteiro. Podem ser negócios imobiliários que é o nosso core mas podem ser negócios de qualquer outro setor.
Maria Inês: Que conselho daria a alguém que gostava de iniciar o seu negócio?
Luciano Menezes: Eu daria dois conselhos. O primeiro é o planeamento, fazer um bom planeamento para se ter uma ideia do Norte a seguir. Se alguém pretende abrir um negócio que não sabe para onde vai é um problema e deve ser o primeiro ponto a ser resolvido. O segundo conselho é arriscar. Invista num planeamento mas não gaste tempo a achar que tem todas as respostas porque é a arriscar na tentativa erro (que faz parte do processo) que conseguimos aperfeiçoar o negócio. Se planearmos, planearmos, planearmos e não executarmos nunca se vai saber se está certo ou se está errado. Então o planeamento é importante, a execução é importante, a tentativa erro é importante e também é muito importante, obviamente, que se conecte com as pessoas certas. Há uma teoria que para chegarmos a qualquer pessoa do mundo, precisamos apenas de sete contactos, então nós precisamos de ajuda para fazer isso. Para quem pretende começar um negócio é muito importante fazer um planeamento, ter ousadia, conexões e muita transpiração.
Maria Inês: E também procurar as pessoas que estão alinhadas connosco porque sem dúvida nestas caminhadas precisamos sempre das pessoas certas ao nosso lado. Nesta linha de raciocínio, como é que acha que as empresas numa altura em que há tanta concorrência, tantas empresas se podem destacar/distinguir umas das outras?
Luciano Menezes: Eu acho que o modelo de liderança é um ponto importante, as pessoas que se vão contratar também e saber qual é o nicho de atuação. Procurar fazer tudo ao mesmo tempo não dá, por isso temos de perceber qual é o foco. Há três coisas que eu pretendo sempre nos meus negócios: foco, receita recorrente e margem, são estas três coisas que qualquer empresa precisa. É óbvio que as pessoas são o principal da empresa é são muitos importantes para o sucesso da empresa.
Maria Inês: Acha que a inovação é um elemento muito importante nos negócios hoje em dia? Acha que devia ser algo que as empresas já pensavam há uns anos ou que as empresas deviam começar a pensar?
Luciano Menezes: Para mim a inovação é uma matéria-prima fundamental. Se a empresa não inova, qual é o tipo de serviço que quer prestar? Qual é o tipo de produto da empresa? A velocidade da mudança é tão rápida que se as empresas não inovarem e mudarem, a tendência é parar. Então para mim não é preciso falar em inovação. A inovação deve ser vista como uma matéria-prima e um pré-requisito que tem de estar, nem é no dia a dia, mas sim na hora a hora.
Maria Inês: Então não deve ser vista como “nós temos de inovar”, mas sim como “nós vamos inovar”.
Luciano Menezes: Para mim ter um departamento de inovação dentro da empresa para mim está errado é como ter um departamento de recursos humanos, eu não concordo com isso. Os recursos humanos são o pilar da empresa. Todas as pessoas que fazem parte da empresa, seja o contabilista, o comercial, o pessoal da produção ou da pesquisa tem de inovar a forma como desempenham o seu trabalho. As pessoas precisam é de ser motivadas e ter formações recorrentemente para que os seus talentos sejam renovados. As pessoas são a matéria-prima da empresa. Para mim a inovação e as pessoas são a matéria-prima. Na pirâmide de Maslow, por exemplo, as necessidades básicas para mim seriam as pessoas e a inovação porque a inovação deve ser a base e não o topo. As pessoas têm de inovar na sua forma de pesquisar, entrevistar, no seu dia a dia, temos de inovar para sermos produtivos. Ser mais produtivo também é uma forma de inovação.
Maria Inês: Como é que se descreve como CEO? Como é que acha que as pessoas o veem? Como é que gostava de ser visto?
Luciano Menezes: Eu acho que o papel do CEO é um papel importante no direcionamento das atividades e dos pensamentos como se fosse um maestro de uma orquestra. Eu vi uma palestra de uma comunidade indígena muito interessante, em que o cacique (é visto como um chefe na comunidade indígena) ouvia a administração colonial e os interesses locais e conseguia encontrar a melhor maneira de corresponder às necessidades de cada um. Então o CEO de uma empresa, tem de ouvir os seus colaboradores, os acionistas e os clientes. Ele precisa de ouvir a atmosfera/o ecossistema para que possa ser o porta-voz da direção que a empresa tem de tomar. Mas é apenas o porta-voz porque quem executa tudo é a equipa, não o CEO. Para mim o papel do CEO é esse, ouvir, conversar com todos e partilhar qual é direção. O CEO é como se fosse uma pessoa num barco, em que se cada um rema para seu lado, o barco não anda, então, todos têm de remar para o mesmo lado, e este é o seu papel.
Maria Inês: Eu concordo consigo. Os colaboradores devem ser ouvidos para que estejam todos alinhados e que consigam andar para a frente e ter sucesso. Última pergunta: tem algum lema ou frase motivacional?
Luciano Menezes: Eu uso diversas frases, por exemplo “só fale se for melhor que o silêncio”, “90% de transpiração 10% inspiração”. Para mim não existe uma frase que eu diga “é esta a frase do Luciano”, não. Cada situação para mim tem uma frase interessante para definir o momento em que estou. Então eu não diria que estou apaixonado por essa frase ou que há uma frase que me conduz. O que me conduz é a vontade de ouvir. Eu acho que o que falta a muitas pessoas, muitos CEOs, muitos empresários é a vontade de ouvir. Normalmente falam demais e ouvem menos. Eu acho que temos de ouvir mais as necessidades dos clientes, as dores dos nossos colaboradores, ouvir mais, transitar mais noutros tipos de mercado, na inovação. Temos de pensar, por exemplo, se eu tenho uma empresa de contabilidade, mas há uma nova tecnologia, eu tenho de pensar em como vou colocar essa nova tecnologia na minha empresa. Esta forma diferente de fazer negócio para mim é fundamental. O Elon Musk comprou o Twitter porquê? Tem de haver um motivo. A Lamborghini faz azeite, porquê?! A Ferrari tem marca de farinha, para quê?! São estas coisas diferentes que me conduzem. Isto é o fator ouvir, o fator ver. Eu acho que não tenho uma frase específica. O que eu quero dizer com isto é que não há uma sentença correta, existem várias.
Maria Inês: Chegamos ao fim, o tempo passou a correr. Muito obrigada pela sua disponibilidade.
Luciano Menezes: Eu é que agradeço. Sempre às ordens. Gosto do João e do Antônio. São duas pessoas bastante interessantes, completamente diferentes, mas se completam e fazem da Inodev uma empresa diferente.