Como os traços de personalidade se relacionam com a transformação digital?

Por  Micael Alves

Micael.alves@inodev.pt

A transformação digital está a mudar fundamentalmente a maneira como as organizações operam, colaboram e atendem os clientes. Para se adaptarem a esse novo contexto, os profissionais precisam de desenvolver habilidades digitais, como o pensamento inovador, a colaboração virtual e a adaptabilidade. 

No estudo publicado na Jurnal Pendidikan Ekonomi Dan Bisnis (JPEB), foi investigado como os traços de personalidade podem influenciar a capacidade dos indivíduos de se envolverem e se destacarem na transformação digital.

Antes de mais, é importante analisarmos o conceito de traços de personalidade. Ao longo dos anos, os investigadores têm procurado identificar estes traços como forma de compreender o comportamento humano. Esta procura teve início no final da década de 1930, quando Gordon Allport e Henry Odbert compilaram uma extensa lista de 18.000 palavras que descrevem características da personalidade. A partir desta lista, vários investigadores procuraram reduzi-la e, na década de 1970, Robert McCrae e Paul Costa desenvolveram o Modelo dos Cinco Fatores (FFM), que descreve a personalidade em termos de cinco traços amplos. 

Este modelo considera a personalidade humana como uma rede hierárquica de traços comportamentais que tendem a ser consistentes em diferentes situações. A rede de traços é dividida em dois níveis: (1) composto por dezenas de traços específicos da personalidade; (2) é formado por cinco traços amplos, nomeadamente extroversão, amabilidade, conscienciosidade, neuroticismo e abertura para novas experiências. Estes cinco traços são considerados os mais relevantes para descrever a personalidade humana de uma forma abrangente.

Em resumo, a compreensão dos traços de personalidade tem evoluído ao longo do tempo, desde a identificação de palavras descritivas até a construção de modelos mais abrangentes, como o Modelo dos Cinco Fatores (Big Five). Esses traços ajudam a entender e descrever as diferenças individuais na personalidade e a influência que elas exercem sobre o comportamento humano.

Descrição das dimensões do Big Five

DimensãoDefinição
Abertura a novas experiênciasDisposição de uma pessoa em explorar e se envolver com novas ideias, emoções, atividades e perspetivas. Indivíduos com um alto nível de abertura a novas experiências tendem a ser curiosos, imaginativos, criativos e abertos a diferentes pontos de vista.
Conscienciosidade                     Descreve o grau em que uma pessoa é organizada, confiável, responsável e comprometida com o cumprimento de suas obrigações. Indivíduos com alta conscienciosidade tendem a ser disciplinados e orientados para metas.
ExtroversãoDescreve o grau em que uma pessoa é sociável, energética, assertiva e voltada para o mundo externo. Indivíduos com alta extroversão tendem a ser extrovertidos e entusiastas em interações sociais.
AmabilidadeDescreve o grau em que uma pessoa é amigável, empática, cooperativa e preocupada com o bem-estar dos outros. Indivíduos com alta amabilidade tendem a ser calorosos, generosos e prestativos nas suas interações.
NeuroticismoDescreve o grau em que uma pessoa tende a experimentar emoções negativas, como ansiedade, tristeza ou raiva. Indivíduos com alta pontuação em neuroticismo são mais propensos a se sentirem emocionalmente instáveis e a lidar de forma mais intensa com o stress e as adversidades.

No estudo mencionado anteriormente, em que investigaram como os traços de personalidade podem influenciar a capacidade dos indivíduos de se envolverem e se destacarem na transformação digital, os investigadores aplicaram questionários como o Big Five, bem como perguntas sobre a experiência e o desempenho dos participantes na transformação digital.

Os resultados revelaram que certos traços de personalidade têm uma influência significativa na capacidade dos indivíduos de se adaptarem e prosperarem na transformação digital. Por exemplo, a extroversão pode ser associada a uma maior capacidade de networking e colaboração virtual, enquanto a conscienciosidade pode estar relacionada à capacidade de planear e executar projetos de transformação digital com eficiência. Além disso, a abertura para novas experiências pode ser um preditor de maior disposição para adotar e experimentar novas tecnologias.

Os resultados ressaltam a importância de considerar os traços de personalidade ao selecionar e desenvolver profissionais para enfrentar os desafios da transformação digital. Compreender as características e as tendências individuais dos profissionais pode ajudar as organizações a criar equipas equilibradas e eficazes, promovendo a inovação e a adaptabilidade necessárias nesse contexto. Além disso, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como comunicação, colaboração e flexibilidade, pode complementar as competências técnicas na procura da transformação digital bem-sucedida.

É possível concluir que a transformação digital exige uma combinação de competências técnicas e traços de personalidade que favoreçam a adaptabilidade e a inovação. Ao reconhecer a importância dos cinco grandes traços de personalidade – extroversão, amabilidade, conscienciosidade, neuroticismo e abertura para novas experiências – as organizações podem tomar medidas mais informadas para selecionar, desenvolver e capacitar os profissionais que liderarão e impulsionarão a transformação digital.

Fontes:

Pradana, B. G. V., & Mayasari, A. (2023). Digital Transformation: The Role of the Big Five Personality Traits. Jurnal Pendidikan Ekonomi Dan Bisnis (JPEB), 11(01), 66-79. 

Raad, B. (2000). The big five personality factors: The psycholexical approach to personality.

Gomes, H. F., Cristiano Mauro Assis e Golino. (2012). Relações hierárquicas entre os traços amplos do big five. Psicologia: Reflexão e Crítica [online] , 25 , 445-456

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